sábado, 9 de julho de 2011

Erbauliche Monaths-Unterredungen, a primeira revista (Alemanha, 1663-1668)

O mundo passava por mudanças intensas no século 17. Fazia cerca de cem anos que a reforma protestante havia abalado e dividido o cristianismo e o ocidente, viabilizando a difusão e o debate de novas ideias. O principal veículo para tal era a imprensa, criada pelo artesão alemão Johannes Gutenberg dois séculos antes.

Sendo assim, nada mais natural que a primeira revista de que se tem notícia tenha surgido na Alemanha. "Erbauliche Monaths-Unterredungen", ou "Edificantes Discussões Mensais" (imaginem esse título na capa de uma revista hoje...), surgiu em 1663 e foi fundada em Hamburgo pelo teólogo, poeta e autor de hinos religiosos Johann Rist. Segundo a Enciclopédia Britânica, o volume tinha a forma e o formato de livro, e só foi considerado uma revista por causa dos artigos sobre teologia, por ter um público específico e periodicidade regular. Ela durou cinco anos, o que é considerado uma eternidade para as primeiras revistas (e, se pensarmos bem, para muitas atuais também).



Não consegui localizar imagens sobre a revista na Internet, mas encontrei informações interessantes sobre Rist. Segundo o site Hymns and Carols of Christmas, ele nasceu em 1607 e era filho de um pastor. Rist começou a se interessar na composição de hinos religiosos quando ingressou no curso de teologia da Universidade de Reinteln em 1626. Ele também estudou nas Universidades de Leipsic, Utrecht e Leyden, onde cursou matemática, química e medicina. Depois que ele se casou foi trabalhar em uma paróquia de Wedel, no subúrbio de Hamburgo. O local foi muito atingido pela Guerra dos Cem Anos e muitas pessoas morreram por causa das privações do período - principalmente de peste. Ao mesmo tempo em que servia ao ministério, Rist publicou dez coleções de poemas e hinos religiosos - entre 600 e 700 peças sobre praticamente todos os eventos da vida pública e religiosa. Rist ficou lá até sua morte, em agosto de 1667.



domingo, 3 de julho de 2011

Revistas, uma história fascinante

Desde que o homem começou a desenhar na parede das cavernas ele passou a documentar seu cotidiano. Este processo só se acelerou com a invenção da escrita na Mesopotâmia e a imprensa de tipos móveis por Guttenbergh, levando à invenção dos jornais e, por fim, das revistas.

As revistas são o melhor testemunho das mudanças do mundo moderno. Através delas, sabemos exatamente como determinados povos pensavam e viviam. Citando a jornalista Fatima Ali no livro 'A Arte de Editar Revistas', elas "promoveram a troca de ideias, influenciaram o pensamento, os costumes e a cultura do mundo moderno. Atravessaram guerras, períodos de recessão econômica e ditaduras que sufocaram o direito de expressão. Enfrentaram a competição do rádio, do cinema, da televisão e da Internet, e sobreviveram. Essa é uma história conduzida por homens e mulheres fascinantes".

As revistas são verdadeiras testemunhas da história. Elas usaram e ainda usam inúmeros recursos gráficos como ilustrações e fotografias para refletir a sociedade de seu tempo. Como diz Fatima Ali, "Os jornais tiveram papel fundamental na no processo de democratização da maioria dos países, e as revistas, que historicamente se desenvolveram para informar, divertir e distrair, formaram o jeito de pensar, os costumes, os estilos e a cultura do mundo moderno".

Os maiores escritores do século 19 foram publicados em revistas, como Charles Dickens e Edgard Allan Poe. No Brasil, elas foram fundamentais na popularização dos folhetins.

As revistas mudaram junto com a sociedade. Quando elas surgiram há três séculos e meio eram eruditas, com resumos de livros discutidos nas rodas intelectuais da época: cientistas, artistas e intelectuais. Fazendo um paralelo simplório, elas tinham mais ou menos a mesma função que os fóruns da internet de hoje: difundir e trocar novas ideias. A partir da Revolução Industrial, com o desenvolvimento das novas instituições sociais, elas foram o recurso do ingresso da nova sociedade burguesa que se formava. Com a alfabetização em massa, elas passaram a falar sobre tudo e para todos os públicos possíveis. Depois da migração para as cidades e do trabalho na indústria, as revistas cresceram com a alfabetização em massa.

Praticamente todos os interesses do homem já foram documentados pelas revistas. Uma quantidade incontável de revistas surgiram e desapareceram ao longo dos anos, derrotadas pela mudança de costumes, vencidas pela concorrência. Umas surgiram há mais de cem anos e seguem firmes e fortes. Outras simplesmente expiraram em poucas edições e essa lei cruel perdura até hoje.

São quase 300 anos de história fascinante, uma verdadeira viagem por tudo o que o homem já fez e sonhou em fazer. Então preparem para tirar o mofo das páginas velhas e boa viagem!

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Nota: muito desse blog é baseado no livro "A Arte de Editar Revistas", de Fatima Ali, da Companhia Editora Nacional. Uma leitura recomendadíssima para todos os amantes da imprensa e leitura obrigatória para estudantes de jornalismo. É possível comprar o livro aqui .